In portoghese

 

Quando conheci Jandira, ela (ou ele?) encontrava-se na fase que os T’teluph chamam “ovuladriz”. Nós humanos, uns mais outros menos, já conseguimos acostumar-nos às mudanças da fisiologia dos T’teluph. É verdade, pois que eles introduziram-se nos nossos sistemas sociais há quase trinta anos. De qualquer maneira a beleza e o fascínio que emana do corpo dum T’teluph quando está no seu estádio de portador de óvulos deixa-te sempre totalmente vulnerável.
E isto foi o que me aconteceu. Jandira (o próprio nome é inventado) nem me via. Alta, loira, estupenda no seu desassossego – à procura dum seu semelhante “recebedor”. Resolvi segui-la pelas ruas, pelas vielas. Com certeza, ela tinha de se encontrar com alguém, “entregar-lhe” o óvulo, e depois desaparecer na escuridão dum qualquer bairro, no silêncio e na sombra de qualquer esquálido quarto de aluguer em que se teria transformado em mais uma aparência, passando de mulher formosa a ser andrógino, emagrecido, quase um rapaz.
Mas, apesar de tudo, apesar dos cinco sexos dos T’teluph, eu amava-a.
Apanhei o eléctrico 28 – estava mesmo atrás de Jandira, mas escondia-me no meio dos outros passageiros. De repente, na paragem perto do Castelo, ela desceu. Consegui descer também eu, em toda pressa, dando um empurrão a um outro T’teluph – que nem teve reacção (como é hábito deles).
E, depois, aconteceu o incrível. Jandira voltou-se, os nossos olhares encontraram-se. Reconheceu-me – sem dúvida. E então começou a correr, a fugir. Os T’teluph – e particularmente no estádio de “ovuladrizes” – são mais rápidos que os leopardos (é para “defenderem” a sua prole). É inútil dizer que eu tinha perdido Jandira para sempre...
Contudo – isto é, não obstante este amor impossível, impedido por duas culturas e, sobretudo, duas biologias diferentes –, eu não consigo detestar essa raça tão diversa. Nunca temi os T’teluph. Muita gente que conheço ainda os olha com susto, com inquietação. Ainda os considera intrusos, invasores. Porém, porquê? O universo talvez nos ensine isto: que é imenso. E que também podem ser infinitas as formas com que abraçarmos e nos abrirmos a novos amores
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(Revisione linguistica di Francisco de Almeida Dias)

 

 

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